Favoritos

  • Livros

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

O menino do elevador de Mag Silva



Todos os dias faço o mesmo trajeto, casa-trabalho-faculdade-casa, sou tão sistemática que durante a semana não penso em mudar a direção, todos os dias que chego no prédio comercial do meu trabalho tomo o mesmo elevador, isso já faz anos, todavia o que me leva a registrar esse meu jeito é algo que fez parar para refletir sobre essa minha obsessão de sempre fazer a mesmas coisas sem querer perceber ou aprender algo novo. Sabe aquelas pessoas que conhecemos apenas de vista? - não sabemos nome, de onde veio e quais os objetivos, é algo tão comum em uma cidade grande, que comigo não seria diferente.
Não se trata de um amor a primeira vista, mas de uma amizade secreta com sorrisos discretos era essa a relação que eu  tinha com o menino que trabalhava no elevador do prédio, ele sabia o andar que eu trabalhava, os horários de almoço e pausa, engraçado que ele já sorria antes mesmo do meu bom dia, para mim até um tempo atrás era algo saudável e natural, até uma amiga dizer que ele me olhava diferente, Pronto! exclamei, mais um para minha lista de pretendentes sem futuro!
Depois desse dia reparei em seu crachá o nome Bernardo, ele até olhou para a camisa no momento que eu olhava e riu, perguntou meu nome, falei sem exitar e apertei sua mão, ele levantou da cadeira e disse que já sabia. A minha cara de espanto deve ter sido a coisa mais engraçada no momento, ele olhou nos meus olhos e eu percebi que eram azuis, Nossa! respirei fundo enquanto ele perguntava para uma outra moça o andar que ela desceria, fiquei sem jeito abri meu celular e olhei para a telinha no alto do elevador, por sorte eu desceria primeiro que a moça.
Passei a tarde inteira pensando no menino do elevador quer dizer no Bernardo, comecei a fazer um download de tudo o que me aconteceu nos últimos anos dentro daquele elevador, juro não lembrei de nada. Na hora de sair quem disse que tive coragem de pegar o elevador?- Tem uns cinco carros, mas preferi descer de escadas, pensa que me livrei do menino? - Não! encontrei no café com uma mochila nas costas, tentei passar olhando o outro lado, mas ele me chamou e convidou para tomar um café, aceitei por vergonha, eu não esperava uma reação tão imediata da parte dele, mas enfim jogamos conversa fora por uns 20 minutos e graças a Deus meu telefone tocou, agradeci a gentileza e tentei sair o mais depressa possível, crente que ele ainda iria pagar os cafés, mas para minha surpresa ele pediu para deixar na conta e saiu atrás de mim.
Gelei mas mantive a pose, seria tão mais fácil se eu estivesse com um dos meus amigos, pensando bem não seria boa ideia, ainda mais depois que recebi uma carta (manuscrito) de um deles, iria piorar a minha situação que já não estava nada legal. Por sorte ele morava no sentido contrário da minha casa, mesmo assim ele pediu telefone, Facebook e o twitter, quase que ofereci o número do RG, CPF e CC, para não deixá-lo constrangido dei apenas meu telefone, seria mais fácil trocar o Chip do que excluir um perfil da internet.
No dia seguinte, subi de escadas alegando para as minhas amigas que precisava fazer exercícios, fiz o mesmo durante a semana, sempre com o cuidado de não esbarrar com ele na portaria ou no café. Achei estranho ele não mandar nenhuma mensagem, mas enfim continuei com a minha missão "não entrar no elevador", passado apenas duas semanas, decidi subi de elevador, e para minha decepção era um senhor até simpático que estava na direção, eu também já o conhecia de vista, na hora do almoço o mesmo senhor fez a gentileza de apertar o botão do térreo.
Eu já estava agoniada, queria saber do Bernardo, porém eu não tinha anotado o telefone dele, comentei com uma colega e  não era surpresa ela também não sabia, então fingi esquecer e não dá importância a esse estranho fato do menino sumi de repente.
No dia seguinte cheguei atrasada por conta do transito da cidade, subi ofegante falei com o senhor do elevador ou melhor Sr. Antonio e assim como não quer nada perguntei se ele sabia do Bernardo, ele olhou para mim e disse que ele tinha arrumado um emprego na área dele e que estava muito feliz.Se ele sabia que o Bernado estava feliz é claro que eles mantinham contato presumi, e a pergunta escapou sem querer e por sorte eu já estava no meu andar, só deu para ouvir ele é meu filho.
Nunca na história das minhas histórias mais bizarras me imaginei em uma situação parecida, aquele senhor era o pai do Bernado o menino que tinha pedido meu telefone... Na hora do almoço sai na frente e decidi falar com o sr. Antonio, quando as portas do elevador se abriu ele sorriu e disse que o filho dele tinha perguntado se alguém tinha sentido falta dele, mas ele tinha respondido que ninguém nem falava bom dia, como iria perguntar o que tinha acontecido com ele?- me senti mal na hora, mas tentei contornar a situação, perguntei onde ele estava estudando e se ele podia passar o telefone dele para mim. 
Às vezes tenho a ligeira impressão que sempre chego depois que a porta da oportunidade se fecha, algo como correr e morrer na praia ou ainda tentar mudar de direção mas ver seus valores e conceitos brecarem e não conseguir avançar, pois bem o Bernardo conseguiu uma bolsa de estudo do "ciências sem fronteiras", para estudar na Irlanda, ele sabe falar inglês, espanhol e francês e estudava italiano, fazia mecatrônica aqui em SP, ama esporte como natação e atletismo, pena que descobri tudo isso com o pai dele, que claro me passou os contatos mas até hoje não tive coragem de adicioná-lo no Facebook, quem diria que atrás de um sorriso discreto morava um garoto tão especial, que me conquistou com uma xícara de café e que ficará guardado na minha memoria como o "O menino do elevador".

Att, Mag Silva


Nenhum comentário:

Postar um comentário